A melhor aula de anatomia do mundo: Violão

A história do violão, que começa há cerca de 2.000 anos antes de Cristo, ainda não foi completamente desvendada. Apesar disso, podemos saber tudo que precisamos sobre este instrumento fantástico que existe nos dias de hoje e como ele é feito.

A Anatomia do Violão

De maneira geral todos os tipos de violão seguem o mesmo princípio: Ao serem tocadas, as cordas recebem energia que as fazem vibrar. Esta vibração é transferida, através do rastilho e do cavalete, a uma caixa acústica, com massa de densidade menor, que também vibra, gerando ondas sonoras amplificadas e tornando-as audíveis a uma distância razoável. Os trastes, que permitem a produção de mais de uma nota por corda, são encaixados na escala, que fica colada no braço do instrumento.

Todo violão bem construído deve ter boa projeção de volume, ou seja, usar eficientemente a energia aplicada pelo músico sobre as cordas, no entanto cada instrumento soa de maneira diferente. Uma nota musical é composta por uma série de notas sobrepostas que completam seu som principal. Dependendo de diversos fatores, alguma dessas notas soam com maior intensidade, destacando-se entre as demais, o que recebe o nome de timbre. Via de regra, violões devem possuir uma gradação de timbres homogênea, desde as notas mais baixas aos agudos mais altos.

Segundo os fabricantes do instrumento, os Luthiers, a qualidade do timbre pode variar de acordo com inúmeros fatores, mas o mais importante deles é o tampo. Os principais fabricantes alteram ligeiramente seu design para gerar características de som diferentes para determinados tipos de consumidores. Entretanto, não existem duas peças de madeira exatamente iguais, por isso jamais haveria dois instrumentos com timbres idênticos.

É impossível enumerar todas as distinções existentes entre as copiosas variações de violões, porém há limites básicos que podem determinar características específicas. A madeira escolhida deve apresentar bom timbre, além de resistência e estabilidade, para suportar os processos necessários à sua construção. A forma do instrumento influencia no realce de frequências agudas ou graves. Seu tamanho e o comprimento da escala, variam de acordo com seu tipo.

Imagem das partes do violão separadas antes da montagem do instrumento.

O corpo do instrumento, chamado de caixa acústica, é formado por tampo, faixas laterais e fundo, que são unidas internamente pelo reengrosso (tira contínua de madeira entalhada), que permitem a colagem do tampo e fundo sobre as faixas. Externamente o acabamento das junções é dado por filetes decorativos, chamados também de frisos de contorno ou ilhargas, que além de decorar, protegem as extremidades da madeira contra umidade e pequenos impactos.

Imagem mostrando a fabricação do mosaico decorativo ao redor da boca do violão, conhecido como roseta, que serve também como reforço desta parte.

O tampo muitas vezes é ligeiramente arqueado, o que torna o instrumento mais forte, do ponto de vista estrutural, e ajuda a prevenir rachaduras e distorções da forma, além de ser menos sujeito a grandes alterações provocadas por variações de temperatura e umidade. Todo tampo é reforçado internamente por travessas e amarrações, que devem permitir a vibração natural da peça, funcionando apenas como apoio. O mosaico decorativo ao redor da boca do violão, também conhecido como roseta, tradicionalmente feito do mesmo material que os filetes decorativos, serve também como reforço desta parte.

O fundo geralmente é composto por duas peças coladas por uma junção reforçada na superfície interna por uma ripa de madeira dura, formando um ângulo reto. Semelhante ao tampo, também possui travessas, amarrações e é ligeiramente abaulado. Além disso, às vezes pode conter filetes decorativos ao longo de sua emenda.

Imagem mostrando as faixas laterais do corpo do violão já enformadas e em processo de secagem.

Compostas por duas peças que se encontram no tróculo, onde se encaixa o braço do instrumento, e na culatra, parte interna inferior do corpo, as faixas laterais são peças que acompanham o perfil curvado do instrumento, usualmente construídas do mesmo tipo de madeira que o fundo. O tróculo é, tradicionalmente, uma peça inteiriça de madeira, mas muitos fabricantes utilizam blocos laminados por serem mais resistentes.

Já cortadas e preparadas, as faixas laterais precisam assumir a curvatura do corpo. Para isso, são embebidas em água até se tornarem maleáveis e depois encaixadas em uma fôrma metálica que será aquecida. A água evapora e as faixas mantém o formato do molde, permitindo a continuidade do processo. Ainda com as faixas enformadas, fixam-se o tróculo da caixa e a culatra, fazendo a união das partes. Então, o reengrosso é preso para receber tampo e fundo, completando a montagem da caixa acústica.

Para entender melhor o processo de fabricação do violão, você pode assistir a este pequeno vídeo, onde Iberê Tenório, do canal Manual do Mundo, conversa com um Luthier e mostra como é feita a construção desse instrumento tão popular.

 A construção do braço do instrumento é variável, podendo ser composto por uma peça inteiriça de madeira dura, ou por três peças de madeira unidas. Há também a possibilidade de o tróculo do braço ser laminado, o que promove maior resistência e estabilidade.

Imagem da junta "rabo-de-andorinha" que faz a união do braço com o corpo do violão através dos encaixes fêmea (no tróculo da caixa) e macho (no tróculo do braço.

A união do braço ao corpo do violão é feita normalmente pela junta “rabo-de-andorinha”, onde um encaixe-fêmea é entalhado no tróculo da caixa e um macho, no tróculo do braço, fazendo assim a ligação de ambas as partes e colando-as. Alguns fabricantes inserem uma peça de madeira dura, ou metal, chamada tirante, numa reentrância aberta no braço, sob a escala, para conferir maior resistência frente à tração provocada pelas cordas.

Colocada ao longo da superfície do braço e da caixa acústica, a escala é sempre mais estreita junto à pestana (onde as cordas ficam mais próximas entre si) e mais larga na extremidade oposta, rente ao rastilho. Além disso, pode ser plana, normalmente utilizada em violões clássicos, ou ligeiramente abaulada, nos modelos de aço, facilitando a realização de determinados acordes.

A pestana é uma peça simples, com entalhes para o encaixe das cordas, que fica no começo da escala, marcando o limite de seu comprimento. Tradicionalmente a peça era fabricada em marfim ou osso, materiais escassos hoje em dia, por isso foram substituídos por substâncias sintéticas na maioria dos instrumentos. A profundidade dos entalhes é crucial para que as cordas soem corretamente e sejam ainda macias da mesma forma que em qualquer outra posição no violão.

Imagem da escala do instrumento em construção já com os trastes encaixados em suas devidas posições.

A escala é feita de madeira e entalhada para receber os trastes. Estes, possuem perfil em T com sua parte inferior serrilhada, para fixar-se às paredes das fendas, e superior arredondada para não danificar as cordas ou machucar os dedos do violonista. O denominado “traste da caixa”, normalmente à altura do 12º ou 14º, corresponde a posição da junção corpo-braço. A maioria dos violões também possui marcadores de posição embutidos na escala, auxiliando o músico e concedendo um charme a mais ao instrumento.

Por fim, as peças essenciais para a transmissão da vibração das cordas à caixa acústica: Cavalete e rastilho. O primeiro, é responsável pela fixação do segundo ao tampo e possui dois tipos básicos existentes. Geralmente utilizado em violões de tampo abaulado, o cavalete móvel permanece em sua posição devido apenas à pressão exercida pelas cordas presas a um afirmador ou cordal (acessório fixo na parte inferior do instrumento). Já o cavalete fixo, utilizado na maioria dos violões de tampo plano, é colado sobre o tampo e tem a função de segurar as cordas e apoiar o rastilho, além de transferir sua vibração à caixa.

Para que isso aconteça eficientemente, esta peça deve ser forte em sua construção e fixação. Feito em marfim, osso ou, em alguns casos, material sintético, o rastilho se prende a uma fenda presente no cavalete e determina o início da seção vibratória das cordas. Este, pode ou não conter pequenas ranhuras onde se encaixam as cordas de forma que não deslizem quando tocadas. Alguns modelos possuem rastilho de altura ajustável, outros permitem a inserção de pequenos elementos na fenda do cavalete para elevá-lo.

Imagem mostrando as identificações de cada parte do violão, dividido em corpo, braço e cabeça.

As cordas do instrumento ficam presas de um lado, ao cavalete e do outro, à paleta, peça localizada na extremidade do braço, também conhecida como mão ou headstock, que acomoda as tarraxas. Estas últimas, por si só, aumentam ou reduzem a tensão exercida sobre as cordas, ajustando sua tonalidade e, por conseguinte, sua afinação.

No passado, os encordoamentos eram feitos de fios metálicos ou tripa animal. Hoje, se dividem em dois tipos básicos muito populares: As cordas de metal ou aço, são normalmente utilizadas em guitarras elétricas e violões de tampo plano ou abaulado; já as cordas de nylon, em modelos clássicos e flamencos. Encordoamentos para violão e guitarra são compostos por seis cordas de diferentes espessuras, cada uma com sua afinação específica.

Desde as primeiras oficinas, o violão brasileiro, percorreu trajetórias de aprimoramentos constantes, reunindo conhecimentos e tradições importados da Itália com os primeiros artesãos. Tranquillo Giannini, Angelo Del Vecchio e Romeo Di Giorgio foram pioneiros na construção do instrumento no país e com muita dedicação e amor ao ofício, montaram as primeiras lojas, permitindo a integração do instrumento por refinados salões. Graças a eles, o violão é, atualmente, o instrumento musical mais popular de todo o país!

Fotografia do antigo endereço do Atelier de Violões Finos de Romeo Di Giorgio, na rua Voluntários da Pátria, em 1940.
Atelier de Violões Finos Romeo Di Giorgio, na Rua Voluntários da Pátria em 1940.jpg
Fotografia antiga mostrando Tranquillo Giannini (sentado na primeira fila da imagem) acompanhado por sua equipe da fábrica de instrumentos Giannini.
Tranquillo Giannini, na primeira fila, acompanhado de sua equipe da fábrica Giannini.

Quer aprender ainda mais sobre este instrumento incrível? Acesse: https://musicvaz.com.br/blog/tudo-que-voce-precisa-saber-sobre-seu-instrumento-violao/ e leia nosso artigo sobre a história do violão!

Conheça também nossos modelos de violões acessando: https://musicvaz.com.br/categoria-produto/violoes/.


DENYER, Ralph. Toque: Curso completo de violão e guitarra. Rio de Janeiro: Rio Gráfica e Editora Ltda, 1983.

NOGUEIRA, Eduardo Fleury. A Evolução do Violão na História da Música. São Paulo. 1991.

THENÓRIO, Iberê. Como é Feito um Violão Boravê Manual do Mundo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4zJ22UBHEOs>. Acesso em: 09 de abril. 2020.

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6 comentários em “A melhor aula de anatomia do mundo: Violão

  1. gostei muito do seu site, sempre volto para ver conteudo
    tão bem elaborado…

    1. Muito obrigado Ronaldo! 😀

  2. gostei de tudo no site, tudo bem explicado.

  3. obrigado por nos ajudar…sucesso.

  4. muito boas as dicas desse site. sempre venho ver as
    novidades.

  5. Seria interessante um texto apontando as diferenças da sonoridade dos violões com junção no 12 e no 14 trastes.

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